Portraits

Vanessa Barragão, artista têxtil
e maestra da cor.

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Vanessa Barragão é uma artista portuguesa reconhecida nacional e internacionalmente pelas magníficas tapeçarias feitas a partir do reaproveitamento de materiais. Na produção das suas peças, Vanessa assume um compromisso com a sustentabilidade utilizando apenas desperdícios da indústria têxtil e técnicas manuais que vão passando de geração em geração.

Quem é a Vanessa enquanto artista?

A Vanessa é uma artista têxtil cujo trabalho é desenvolvido a partir do reaproveitamento de materiais. Tem sido muito esta a minha missão, e tento sempre procurar mostrar aquilo que está a acontecer com o ambiente, alertando as pessoas para uma maior consciência das nossas atitudes em prol de ajudar o futuro das próximas gerações.

De que modo é que a tua arte é sustentável?

Todo o material que eu uso é fruto de desperdícios da indústria têxtil. O que é considerado desperdício para as grandes indústrias é material bom para mim, porque uso em pequenas quantidades. À parte disso, também os temas que eu abordo nos meus trabalhos, a questão da sustentabilidade, tentarmos ser mais ecológicos, o fundo do mar… Por fim, as técnicas que eu uso, que são técnicas manuais, também são amigas do ambiente e eu procuro preservá-las com o meu trabalho, ensinando novas pessoas a fazerem-nas.

Como descreverias o teu processo criativo?

Temos dois departamentos aqui no atelier: o departamento de encomendas e o departamento mais criativo. Desenvolvo sempre uma coleção, e é com base nessa coleção que depois os clientes podem encomendar as peças. A partir dessa coleção, faço desenhos para depois produzirmos as peças para esses clientes, que muitas vezes são decoradores, arquitetos, que precisam sempre do desenho para enquadrarem com os projetos.
Depois, temos a parte criativa. Eu tenho ideias, sei o que quero representar na minha cabeça e começo a criar. A ideia vai evoluindo a cada dia, e é por isso que não gosto de seguir um desenho quando estou nesse departamento mais criativo. Tenho uma ideia do que quero fazer e começo a produzir e, com o passar do tempo, a peça vai-se criando a ela própria e a ideia que eu tinha inicialmente já mudou. Acaba por ser uma coisa muito espontânea, muito “ir com o flow”.

Vemos sempre muita cor nas tuas peças. Já aconteceu a cor ser o princípio para um trabalho teu?

É sempre o princípio. É a partir das cores que eu começo um trabalho, sempre. Eu vejo as cores, gosto desta, gosto desta, gosto desta, e quero fazer uma peça com estas cores juntas. À medida que os dias vão passando, talvez as cores vão sendo alteradas, mas a cor é a parte principal.

Se tivesses que escolher três cores para te definirem, ou para definirem o teu trabalho, quais seriam?

Eu adoro os verdes, adoro os rosas velhos e os brancos, são as cores que eu mais gosto.

E há alguma cor com a qual nunca tenhas trabalhado?

Acho que já trabalhei com todas. Todo o material que eu tenho aqui, todas as cores que me chegam é aquilo que existe. Portanto, eu não vou tingir novas, não vou fazer novas cores. Às vezes há cores que eu tenho muito, às vezes há cores que eu tenho pouco e isso também vai guiar um bocadinho para onde é que o meu trabalho vai. Se o cliente quer um laranja XPTO, eu não tenho esse laranja XPTO, tem que ser com outro. Portanto, a cor é muito aqui a base da parte inicial deste processo criativo.

Em três palavras, consegues definir a Vanessa artista?

Em três palavras? É uma pergunta difícil… Dedicação, paciência e vou dizer criatividade, porque acho que é uma coisa muito importante e que eu espero que nunca me falte.